O planeta nômade: Segundo Pierre Lévy (2000), o desenvolvimento dos novos instrumentos de comunicação inscreve-se uma mutação de grande alcance, à qual ele impulsiona, mas que o ultrapassa, mas o que isso significa? Trata-se de viagens de prazer, de férias exóticas, de turismo? Não. Do giro dos homens de negócios e das pessoas apressadas em torno do mundo, de um aeroporto a outro? Também não. Os “objetos nômades” da eletrônica portátil não nos aproximam tampouco do nomadismo atual. Essas imagens de movimento nos remetem a viagens imóveis, encerradas no mesmo mundo de significações. O nomadismo desta época refere-se principalmente à transformação contínua e rápida das paisagens científica, técnica, econômica, profissional, mental...etc. Mesmo que não nos movêssemos, o mundo mudaria à nossa volta. Falando sobre o espaço desse novo nomadismo Pierre Lévy indaga: O espaço do novo nomadismo não é o território geográfico, nem o das instituições ou o dos Estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras de constituir sociedade. (Lévy, 2000).
As relações pessoais e a tecnologia: Estamos sempre conectados, mesmo estando em movimento, nunca perdemos de vista nossos celulares e smartphones. A tecnologia influencia nossas relações pessoais e nossos sentimentos. Bauman retrata bem essa situação vivida pelos seres pós-modernos: Não importa onde você está, quem são as pessoas à sua volta e o que você está fazendo nesse lugar onde estão as pessoas. A diferença entre um lugar e outro, entre um e outro grupo de pessoas ao alcance de sua visão e de seu toque, foi suprimida, tornou-se nula e vazia. (Bauman, 2004).
Por outro lado, Bauman (2004), nos alerta para os perigos dessas conexões fáceis, cada conexão pode ter vida curta, mas seu excesso pode ser indestrutível. Em meio à eternidade dessa rede imperecível, você pode se sentir seguro diante da fragilidade irreparável de cada conexão singular e transitória. Dentro da rede, você pode sempre correr em busca de abrigo quando a multidão à sua volta ficar delirante demais para o seu gosto. A proximidade virtual e a não virtual trocaram de lugar: agora a variedade virtual é que se tornou a“realidade”. A sociedade tem sofrido modificações significativas, e as relações pessoais têm-se transformado de forma súbita como descreve Bauman: Os lares não são mais ilhas de intimidade em meio aos mares, em rápido resfriamento, da privacidade. Transformaram-se de compartilhados playgroundsdo amor e da amizade em locais de escaramuças territoriais, e de canteiros de obras on de se constrói o convívio em conjunto de bunkers fortificados. “Nós entramos em nossas casas separadas e fechamos a porta, e então entramos em nossos quartos separados e fechamos a porta. (Bauman, 2004).
Desde o final da década de 1990, quando começaram a surgir os websitesde encontros e namoros, criam-se novas formas de se comunicar, de se relacionar e de se conhecer. Assim a internet, por ser um meio com características próprias de relacionamento, se constitui em um espaço que possui a capacidade de influenciar as relações interpessoais. No livro “Relações Amorosas & Internet”, é apresentado alguns fatores que favorecem a popularidade da internet para os relacionamentos amorosos e sexuais. São eles: a diminuição dos preconceitos com esse meio para o objetivo de encontrar relacionamentos, e a grande possibilidade de encontros com garantia de anonimato.
O mesmo livro traz estatísticas interessantes como a que nós brasileiros temos a maior média de amigos on-line (66,4 amigos) e que oito entre cada dez brasileiros dizem que a internet melhorou seu relacionamento com os amigos. Em relação a flertes on-line no Brasil, o movimento é hábito em um a cada três adultos, enquanto a média mundial é de um a cada cinco. O levantamento assinala que 25% dos adultos brasileiros já se apaixonaram pela web, também acima da média mundial, que é de 14%.
A internet interfere no casamento?: É comum fazermos esse questionamento nas nossas conversas. Os casamentos têm se modificado frente a diversos aspectos que são característicos dos tempos atuais. O que se percebe é que a rede mundial de computadores tem mudado alguns e criado outros hábitos nos casamentos. Para algumas pessoas que possuem mais dificuldades em dizer coisas uma para a outra presencialmente na situação de separação, em que é comum a intensificação dos obstáculos, a internet serve como instrumento de facilitação. Tem havido um crescente aumento nos índices de infidelidade extraconjugal, muitos chegam a indagar: a relação virtual é uma traição? Na virtualidade, as pessoas envolvidas em uma relação extraconjugal podem não estar presentes no mesmo lugar, nem ter contanto físico, mas a relação existe em um espaço que é virtual.
Pedimos a Deus orientação e discernimento para usarmos de maneira saudável a tecnologia disponível em nosso tempo pós-moderno, usando sempre os facilitadores tecnológicos para construir e cultivar as nossas relações e não destruí-las.
LÉVY,
Pierre; ROUANET, Luiz Paulo. A
inteligência coletiva:
para uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
BAUMAN,
Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas.
Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
SILVA
NETO, João Alves da; MOSMANN, Clarisse Pereira; LOMANDO, Eduardo. Relações
amorosas e internet. São Leopoldo: Sinodal.